sábado, 24 de abril de 2010

Os Pitaguary



Há vários lugares de memória na área Pitaguary. Entre esses lugares destaca-se a figura da “mangueira centenária”, da “senzala dos escravos” e da gruta ou do “buraco” de Santo Antônio, para citar apenas alguns. A mangueira é constantemente identificada com a figura da “mãe natureza”, que protege, dá paz e conforto. Ela está no centro das atenções, pois, segundo contam os narradores indígenas, “naquele pé de mangueira, exatamente lá, morreu muito índio enforcado e matado de fome”.
A mangueira é símbolo de um tempo pretérito, mas também de um momento vivido no presente. Ela é a lembrança do que se passou ao mesmo tempo em que se torna cenário de atividades contemporâneas de suma importância. Por exemplo, é sob a sombra da “mangueira sagrada” que, no dia 12 de junho de cada ano, os Pitaguary realizam um evento tradicional, cujo maior objetivo é apresentar o Toré para a própria comunidade e para visitantes que vêm de fora da área indígena.

O Toré Pitaguary é uma dança que se inicia com os participantes dando as mãos e formando um grande círculo, como numa "corrente" de oração. Aqueles que dançam seguem os comandos dos chamados “puxadores” de Toré, geralmente o cacique ou o pajé. O canto é acompanhado pelo som das maracás e muitas vezes conta com a batida de tambores que ficam no centro da roda. É nesse momento que, segundo contam os narradores, a mangueira chora. Dizem que o clamor dos índios escravizados no passado é tão forte que, ao “brincar o Toré”, debaixo da árvore chove. Para o antigo pajé Pitaguary, seu Zé Filismino, a chuva nada mais é do que o choro da mangueira.






O ritual se completa com a ingestão de uma bebida, preparada à base de frutas nativas da região, e servida para todos os membros num recipiente único (uma cabaça) que deve sempre girar em sentido horário. Os Pitaguary não têm o costume de experimentar dessa bebida, a “atanhanga”, em momentos que não sejam o da dança, indicando, com isso, que se trata de uma bebida de uso ritual.

Além do Toré, as narrativas orais constituem um importante elemento da cultura Pitaguary. Nelas, é comum encontrar referências à idéia do contato entre índios e não-índios. Esse momento é representado como uma descoberta fundada sobre a violência e seguida de aprisionamento. Um dos personagens-chave de muitas histórias é o “velho Miguel Barão”, rico fazendeiro que teria usurpado larga faixa de terra pertencente aos índios. O “velho Miguel Barão” personifica a invasão e o processo de escravização de que tanto falam, em suas narrativas, os Pitaguary.
Há também as crenças nos chamados “seres encantados”, presentes nos relatos míticos que têm como personagem principal a “caipora”. A caipora é símbolo da afirmação de um saber indígena sobre a “mata”. Histórias relacionadas a ela aparecem, freqüentemente, quando o assunto é a caça. Ao sair para caçar, dizem alguns mais velhos, “o pessoal vê gemido, vê pancada, vê chiado, fica ouvindo coisa que não vê”. Por que? Porque “ali tem encanto”, “caipora é encantado”. Ao contar essa história, alguns utilizam a referência com o artigo definido “a” (a caipora), outros a colocam no masculino, com o artigo "o", fazendo concordância com a figura do “caboco” ou “caboquinho”.



Assim como o Toré, que de “brincadeira” passou à “arma de guerra”, as narrativas, além do seu caráter lúdico e pedagógico, passaram a ser instrumentos eficazes na demarcação da(s) singularidade(s) do povo Pitaguary, uma singularidade que se quer dizer histórica, política e cultural. Assim, a atividade de rememorar e narrar hoje tem uma importância que extrapola o âmbito da socialização interna desse povo.

Gilberto Freire, Especial Freyre


Gilberto Freyre (1900-1987) escreveu 67 livros, sendo Casa Grande & Senzala a sua maior obra, publicada em 1933, e que se tornou um clássico sobre a história da formação da sociedade brasileira. O autor de Sobrados e Mocambos foi o escritor brasileiro que mais recebeu homenagens de universidades da Europa e dos EUA.

"Gilberto Freyre já foi bandido e até herói, surgiu como defensor de uma escravidão enganosamente benigna ou exaltado como precursor da história das mentalidades."
Lilia Moritz Scwarcz


Gilberto Freyre: uma rápida biografia

O escritor e sociólogo Gilberto Freire imprimiu a sua obra uma visão poderosa e original dos fundamentos da sociedade brasileira.
Sua mensagem representou um divisor de águas na evolução cultural do Brasil e contribuiu para que o país encarasse com mais confiança seu papel no mundo moderno.Gilberto de Melo Freire, que como escritor assinava Gilberto Freyre, nasceu em Recife PE. Fez estudos primários e secundários no Colégio Americano Gilreath e seguiu depois para os Estados Unidos, onde cursou as universidades de Baylor (Waco, Texas) e Colúmbia (Nova York).
De volta ao Brasil em 1924, permaneceu em Recife, cidade que se tornou a base de sua atividade intelectual, mas não abandonou as viagens internacionais. Dirigiu por algum tempo o jornal A Província. Foi oficial de gabinete e assessor direto do governador de Pernambuco Estácio de Albuquerque Coimbra, deposto pela revolução de 1930.O escritor projetou-se nacionalmente na década de 1930. Deputado à Assembléia Nacional Constituinte em 1946, Freire permaneceu na Câmara Federal até 1950.
Membro do Conselho Federal de Cultura desde sua criação, em 1967, recebeu numerosas láureas, títulos e prêmios, nacionais e estrangeiros. Professor honoris causa da Universidade de Coimbra e de outras universidades brasileiras e estrangeiras, membro de sociedades internacionais de cultura, afirmou, no entanto, sua independência em relação à instituição acadêmica, da mesma forma que se declarou pós-marxista e não modernista, acatólico e não anticatólico.
Gilberto Freire morreu em Recife, em 18 de julho de 1987. Sociólogo e escritor brasileiro. Sua obra, sobre a contribuição do negro e o fenômeno da miscigenação, apresenta uma visão original da sociedade brasileira.

Leonardo Boff vida e obra




Neto de italianos que migraram para o sul do Brasil no final do século 19, Leonardo Boff, garoto ainda, com apenas 11 anos, partiu de sua cidade natal, Concórdia, com destino ao seminário de Luzerna, no Vale do Rio do Peixe (SC), certo de que o seu futuro era o da fé. Fez estudos avançados em universidades de prestígio, como Wurzurburg, Lovaina e Oxford, doutorando-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique, Alemanha, em 1970. Ficou conhecido pelos seus trabalhos sobre a Teoria da Libertação, acreditando ser impossível desvencilhar a libertação pela fé da política. No livro Jesus Cristo Libertador (1972), um dos primeiros grandes estudos feito a partir da Teoria da Libertação, concorda com a idéia de que as teorias marxistas tiveram relevância no atraso das sociedades de Terceiro Mundo. Seus textos serviram de base para novas gerações de teólogos latino-americanos. Mas ao combinar a Bíblia com a política, desagradou às autoridades eclesiásticas. Em 1984, como punição pelo livro Igreja, Carisma e Poder (1981), no qual chega a criticar a própria estrutura da Igreja, foi chamado a dar explicações ao Vaticano, sendo condenado a um "silêncio obsequioso" por um ano, sendo proibido de se manifestar publicamente. Em 1992, ao ser condenado novamente, o teólogo, batizado com o nome de Genézio Darci Boff, resolveu deixar a Ordem dos Frades Menores (os franciscanos), na qual ingressara em 1959, e pedir a dispensa do sacerdócio (foi ordenado padre em 1964). Atualmente, além de um grande teórico da fé, destaca-se como um idealista: cria e assessora Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), para as quais prega a luta por uma sociedade mais justa e humana, na qual os pobres não devem simplesmente aceitar a condição de miséria como algo natural, mas agir em favor da justiça social. Professor emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, publicou mais de 70 livros.

domingo, 4 de abril de 2010

Entrevista com Michèle Sato sobre Educação Ambiental


Esta edição da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação tem a honra de apresentar a professora doutora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e consultora do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Michèle Sato, um referencial nacional e internacional da Educação Ambiental.Por Berenice Gehlen Adams.

Apresentação: Esta edição da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação tem a honra de apresentar a professora doutora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e consultora do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Michèle Sato, um referencial nacional e internacional da Educação Ambiental. Recentemente Michèle lançou o livro "Educação Ambiental - Pesquisa e Desafios", pela Artmed Editora, organizado por ela em parceria com Isabel Carvalho. Dispensando maiores detalhes, Michèle se apresenta: "Sou facilitadora da Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental (REMTEA), professora da Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e atuante no movimento ecológico internacional. Casada, com dois filhos lindos de morrer, tenho um quintal meio abandonado e uma casa sem estrelas, exceto aquelas que olhamos no céu junto com o clarão do luar. E habita em meu ser a dualidade da disciplina e da transgressão; da poética e da irônica; da mediadora e da provocadora".

Vamos conhecer um pouco mais da sua valiosa experiência através desta entrevista:


- Michèle, conte-nos como surgiu o seu interesse pela Educação Ambiental (EA) e desde quando você se dedica a ela com tanto fervor. Como foi essa trajetória?

* Acredito ter tido forte influência de meu pai, um zen budista cuidadoso com a natureza, seja nas pequeninas vidas, bem como nos sistemas cósmicos que regem o mundo. Suas palavras incentivaram à bondade humana no cuidado com outras formas de vida. E que como retornamos à Terra, teríamos que cuidar dela. O respeito e o gosto pela natureza me conduziram a escolha pela Biologia. Ingressei no mestrado em oceanografia, e me frustrei durante o projeto Antártida. Fui dar aula em escola da periferia de São Paulo e me apaixonei - tanto pela educação como pela luta de inclusão social. Depois fui cair na filosofia para um mestrado na Inglaterra, fiz uma trajetória inversa no doutorado em Ecologia na UFSCar e sou professora da Pedagogia na UFMT. Enfim, hoje sou esta metamorfose ambulante sem definição. Ora filósofa, ora poeta, ora educadora, ora ecologista, ora tudo isso misturado. E gosto destas múltiplas personalidades, e não abriria mão de nenhuma delas.

- Como você percebe a Educação Ambiental, de uma forma ampla e global?

* Um projeto de vida que luta pela democracia participativa, na busca da inclusão social através da justiça ambiental e proteção ecológica. Para além de espaços escolarizados, para além de comunidades, um projeto de construção de uma Nação, chamada Brasil. Acho que não temos o sentido de brasilidade, dá certo status falar mal dos políticos, criticar sem reconhecer que o Brasil somos nós, e que de nós depende o Brasil de nossos sonhos. Morei fora do Brasil durante muito tempo, tanto em países ditos ricos como pobres. Estou convicta de que aqui é o melhor lugar do mundo e que a nossa EA made in Brazil é bonita, criativa, crítica e propositiva.

* A impressão que eu tenho é que as pessoas estão perdendo a cotidianidade em nome desta tal globalização. Todo ser humano representa um movimento de diferença. E essa diferença se expressa e se visibiliza no campo da cultura e também da EA. No V Fórum da REBEA, Carlos Rodrigues Brandão nos dizia que lia uns 2-3 livros simultaneamente: Capra, Morin, Prigogine. Ele comentava que faltava chão, ou seja, padecia por algo mais concreto, atitudes mais cotidianas, que permitissem que ele exercesse sua cidadania. Citando vários exemplos de coisas simples, destas coisas que as pessoas julgam ser irrelevantes, mas que tocam nossas vidas tão profundamente, ele finalizou sua fala: “aprende Morin!”. Vibrei tanto naquela hora... E tenho muita identidade neste resgate antropológico que o Brandão quis nos convidar. Situamo-nos no mundo, amplo e global, mas cada qual com sua identidade, jeito e forma de pensar. Clifford Geertz nos pediria para refletir sobre meras atitudes triviais perante o mundo. Eu não sou contrária à complexidade e cosmicidade humana, mas prefiro revelar signos, gestos e um conjunto de expressões que nos confiram mais sabor na serena forma de viver. Isso não implica, entretanto, que ignore a teia universal da vida planetária. Adoro Prigogine e acato sua teoria do caos de forma incondicional. Ordem na desordem, ou harmonia no caos.

- Quais associações possíveis de serem feitas entre a Educação Ambiental e a pluralidade cultural?

* Há uma generalização mundial em se medir qualidade de vida por apenas 3 indicadores: longevidade, PIB e escolaridade. Não importa se a renda é bem distribuída, ou se meia dúzia de famílias controlam o poder econômico. O tempo de vida das pessoas localiza-se na qualidade desta vida, muito além dos anos que ela poderá viver. E a escolaridade não se reduz ao número de matrículas, nem ao número de escolas, mas na aprendizagem capaz de ousar transformações. Nem sempre as pessoas bem informadas ou com titulação tomam as decisões corretas. Há um universo de sabedorias explícito na pluralidade cultural que deve ser considerado. Para além do IDH, portanto, nós estamos tentando construir indicadores qualitativos e que estas comunidades nos digam o que significa viver bem. No conceito de felicidade desta gente, a espiritualidade é evocada de forma intensa, misturado com símbolos, mitos e lendas que foram criados num mecanismo de tentar se explicar os fenômenos da vida. Sem as rígidas normas científicas, são saberes biorregionais pulsantes em cada cultura. Aqui, o educador não ensina, muito menos conscientiza as pessoas. Mas formamos uma comunidade dialógica de aprendizagem colaborativa - formamos um grupo pesquisador com multireferenciais que ultrapassam “disciplinas” (portanto não é apenas interdisciplinaridade), e que obviamente, são visões que se confrontam, se chocam e se divorciam nas singularidade de cada sujeito. Aceitamos as interferências e propomos a mediação pedagógica que possa tornar o conflito como fator da EA. Se o discurso sobre a proteção à biodiversidade é um completo consenso, há que se resgatar, também, estas diferenças culturais que nos situam numa arena de debates sem fim. É bom ressaltar que violências, sejam simbólicas ou diretas, não são diferenças, mas são mordaças e ditaduras que devem ser combatidas e denunciadas.

- Para você, qual é a importância dos trabalhos em rede, para a consolidação da Educação Ambiental?

* A Era Moderna tem herança da hierarquia, do autoritarismo e também do “salve-se quem puder”. As organizações sociais marcadas pela estruturação das redes vêm tentar demolir estes velhos “paradigmas”. Entretanto, o que seria fácil derrubar conceitualmente, torna-se um enorme desafio aos movimentos sociais, pois ainda há lutas de poder, talvez não do rei aos súditos, mas deste microcosmo entre os próprios súditos. Temos muito que aprender ainda, mas eu acredito que as redes apresentam nossa militância, nossa paixão, nossa luta generosa em se entregar incondicionalmente à luta ecológica. Estou convicta de que nossa produção científica da academia e a formulação das políticas públicas dos governantes são mais consistentes no diálogo aberto entre todos. E que a sociedade civil tem enorme contribuição ao processo político de lutas. Sem privilegiar um ou outro segmento, desde que as redes agregam todos os territórios e identidades, representa, assim, um laboratório dinâmico de experiências, acertos e erros. É aqui que se coloca o grande desafio de aceitar as diferenças, sem se permitir violentar ou assistir passivamente diferentes olhares que se contrapõem. Gostaria de reforçar que não podemos tomar tudo como diferenças culturais, há aquelas vozes que representam violências. Estes devem ser denunciados, combatidos e banidos, pois representam um círculo vicioso do poder concentrado, da iniqüidade social e da degradação ambiental.

- O que você teria para colocar sobre a proposta de uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO?

* Tenho tecido críticas ao Desenvolvimento Sustentável (DS) desde a defesa do meu doutorado (1997). Ancorada na proposição de sociedades sustentáveis, presentes inclusive nos Tratados da EA, e que representa um viés político de grande significado ao ecologismo. O contraponto básico é que devemos reinventar novos parâmetros de vida para além do enfoque economicista expresso na nossa bandeira nacional “ordem e progresso”. Durante o lançamento da década da educação para o DS, na América Latina e Caribe, fizemos oposição explícita lançando o Manifesto pela Educação Ambiental. Com apoio da REBEA, eu e o Mauro Guimarães conseguimos fazer um “certo barulho”. O que seria proposta brasileira, se alargou rapidamente, e hoje temos signatários de quase todos os continentes (falta Oceania) e cerca de mil pessoas do mundo inteiro a favor da identidade da EA. O número é reduzido, mas eu considero a qualidade destas pessoas. Quem assinou o manifesto demonstra coragem em ainda lutar contra o forte aparato autoritário, recusando a fazer parte do passivo “natural”, ainda resiste e não perde a esperança. Frente aos danos ambientais, muitas vezes me dá a impressão que falta gente nesta luta e que somos muito poucos. Recolher mil assinaturas, assim, é de significado qualitativo enorme à tessitura de uma EA mais política.

- Diante de tantos desafios impostos para a consolidação desta prática educacional, qual é, deles, para você, o maior desafio da Educação Ambiental?

* Não acredito no aprisionamento da EA como uma ilha paradisíaca fora do continente. O Brasil está em crise e o mundo também. Vivemos um momento histórico da humanidade sem precedentes e a EA não poderia se furtar de problemas globais. Portanto, nossos desafios são enormes. No plano específico, acredito que há várias ameaças, desde a ausência de tempo para flexibilizar currículos e promover formação dos sujeitos, passando pela ausência de financiamento em projetos comunitários, até o próprio enfoque desenvolvimentista que acarreta a injustiça ambiental. Como conseqüência, as assombrosas violências contra o segmento ambientalista que empipocam cá e lá, ameaçando a vida de pessoas que exatamente lutam por elas. Nossa ação está muito longe de ser finalizada e não tenho certeza se iremos ganhar na proteção e justiça ambiental. Entretanto, a esperança continua para que nossos filhos e a famosa geração futura consigam, minimamente, viver com dignidade.

* Acredito que os desafios são inerentes às temáticas que cada qual atua no campo da EA. Geração de lixo, poluição de qualquer tipo, desmatamento, energia tradicional, usinas hidrelétricas, perda da biodiversidade, emissão de gases que causam estufa e danificam a camada de ozônio, ausência de formação dos sujeitos, currículo inflexível, escolas e universidades tradicionais. Governos insensíveis, segmentos sociais alienados, pobreza e miséria, entre tantos outros dilemas do mundo que inevitavelmente refletem na EA. Neste exato momento, onde ultrapasso um momento ruim e histórico de minha própria vida, acredito que a violência (social, ambiental, individual) seja o maior desafio à EA.

- Fale-nos um pouco sobre os "sabores" e "dissabores" da Educação Ambiental.

* Considerando que os dissabores já foram citados na questão anterior, permito-me a lançar boas tessituras da EA. Entretanto, o paradoxo se estabelece na imensidão do que acredito que seja EA, pois não sabemos definir ou escrever algo grandioso em poucas palavras. E quando conseguimos, fica faltando alguma coisa, porque não se descreve complexidades do mundo quando estamos no interior dele. Sou uma destas pessoas apaixonadas pela causa ambiental e por isso mesmo, cometo erros terríveis. Se fosse mais fria, menos envolvida e menos emocional, talvez a racionalidade pudesse ofertar mais conceitos. Entretanto, sinto que é esta emoção que torna a EA tão admirável e significativa na minha vida. É melhor vivê-la do que conceituá-la. Se eu fosse poeta e me perguntassem qual seria a melhor estação pra poesia, pensaria... Será no calor do verão sob o céu azul do mar, com um copo gelado de um suco ou fruta da estação; ou se na florida primavera de aromas e cores que inspiravam a palavra. Talvez a poesia fosse mais internalizada na beleza do outono das folhas secas, refletida na solidão purpúrea da alma. Ou, quem sabe, na aridez do frio, do copo do vinho ao ritmo dança dos corpos cansados pelo sexo na labareda das chamas da lareira. Mas sendo uma educadora ambiental, a melhor estação da EA é a poesia.

- Há algo que não perguntei e que você considera importante de comentar?

* Agradeço a constante atenção e parabenizo, por mais uma vez, a Revista Eletrônica da Educação Ambiental em Ação. Também gostaria de dizer que a lista facilitada pela Bere é uma das mais sensíveis, pois brota da cooperação, da solidariedade e da bondade de seus participantes. Num mundo grotesco exposto às mentiras, violências e corrupções de todas as ordens, é muito acalentador ler as mensagens que circulam entre seus participantes. São manifestações que nos conduzem a refletir que “um outro mundo é possível”.

- Deixe uma frase, uma palavra, uma poesia ou uma idéia que você pode compartilhar com os/as leitores/as da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação:

* Não restam dúvidas que a palavra da EA já foi dita. Há uma tradição dos patrimônios conceituais e práticos dela inegáveis e um movimento de resistência para que ela continue a sua rota existencial. Haverá os que duvidam dela, indagando sobre sua utilidade ou poder de revolução. A EA que compreendo é a forma da minha própria existência, de respirar pela manhã e contar estrelas pela noite. É meu jeito de viver, querendo escutar o riso da vida. E é delicioso saber que atitudes triviais e singulares do meu cotidiano possa ser compartilhados com esta linda comunidade de aprendizagem. Obrigada pela oportunidade.

Todos os créditos são da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação -

Antonio Gramsci - O Karl Marx da educação


Um autor de grande importância para que possamos entender algumas das transformações pelas quais passa nosso País (e algumas outras partes do mundo) é Antonio Gramsci. Trata-se de um filósofo italiano nascido em 1891 e que faleceu em 1937. Conforme vamos poder observar adiante, Gramsci trouxe uma grande contribuição para algumas linhas teóricas em educação ao tentar adaptar o pensamento político marxista às exigências da sociedade do século 20. Mas eis que surge a pergunta sobre como isto se deu.
Conforme sabemos mediante os estudos relacionados à Teoria Social de Karl Marx, este era um autor que partia do pressuposto de que as mudanças (revoluções sociais) ocorriam mediante uma luta (armada) de classes (bruguesesxproletários). No pensamento social de Gramsci, o espaço em que a luta de classes ocorre é o da cultura, e tal luta é uma luta principalmente ideológica.
Para Gramsci, o mais importante no desenvolvimento de uma revolução proletária (objetivo do pensamento revolucionário marxista) é se estabelecer uma revolução cultural, a qual ao mudar todo o sistema de crenças, valores e tradições de um povo, muda sua própria forma de pensar e traz até mesmo para as antigas elites conservadoras o modo de pensar da classe trabalhadora. Com vistas a efetivar este projeto de revolução cultural (o qual para Gramsci torna possível até mesmo prescindir do uso da força física para se manter caso seja bem feito), o autor pensa em duas estratégias: 1) A escola Unitária; 2) O intelectual orgânico.
Na escola unitária (única, mas também unitária) o indivíduo estaria presente em uma escola em que os trabalhadores intelectuais e os trabalhadores manuais freqüentam esta mesma escola (e por isto é única), igualmente nesta escola são aprendidos conteúdos relativos á formação profissional e à cultura clássica (e por isto a escola é unitária do ponto de vista do conhecimento). é nesta escola chamada por Gramsci de Escola Unitária, que será formado o Intelectual Orgânico, que nada mais é do que o sujeito que possui ao mesmo tempo um comprometimento com a classe a que se vincula e um saber (erudito e técnico-profissional) que o distingue dos demais. É através da mobilização política promovida pelo intelectual orgânico e pelos conteúdos escolares que não mais estabeleceriam distinção entre o trabalho intelectual e o trabalho material (braçal) que a revolução cultural aconteceria. A luta armada não ocorreria neste caso, pois todos estariam unificados o ponto de vista da cultura. Dedico este artigo a todos os leitores do Shvoong, em especial àqueles que são meus alunos de uma Universidade Brasileira.

Educação Ambiental - Conceito


No ambiente urbano das médias e grandes cidades, a escola, além de outros meios de comunicação é responsável pela educação do indivíduo e conseqüentemente da sociedade, uma vez que há o repasse de informações, isso gera um sistema dinâmico e abrangente a todos.
A população está cada vez mais envolvida com as novas tecnologias e com cenários urbanos perdendo desta maneira, a relação natural que tinham com a terra e suas culturas. Os cenários, tipo shopping center, passam a ser normais na vida dos jovens e os valores relacionados com a natureza não tem mais pontos de referência na atual sociedade moderna.
A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um mínimo de interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pressão exercida sobre os recursos naturais.
Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos, além de muitas outras formas de agressão ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à natureza, no sentido de promover sob um modelo de desenvolvimento sustentável (processo que assegura uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais), a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos.
É subdividida em formal e informal:
Formal é um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino;
Informal se caracteriza por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos e de conteúdos e um público alvo muito variável em suas características (faixa etária, nível de escolaridade, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc.).